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Sávio Ximenes Hackradt

26.7.12


Os debates da 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) tiveram foco ontem (25) nos saberes tradicionais e na pesquisa científica. Comunidade acadêmica e povos tradicionais discutiram mecanismos para aproximar os tipos de conhecimento produzidos por ambos como forma de enfrentar a pobreza.

Agência Brasil

Para a secretária nacional da SBPC e bióloga do Instituto Butantan, Rute Andrade, o distanciamento entre a academia e o saber tradicional foi provocado pela Convenção da Biodiversidade, construída na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio92). “Depois desse documento, passamos a ter uma exigência legal para o acesso ao conhecimento tradicional, que muitas vezes provocou conflitos. A ideia é que haja um reconhecimento entre os dois saberes para que a gente tenha uma sociedade mais justa e que se consiga a sustentabilidade que tanto se deseja”, disse.

A advogada do Instituto Indígena para Propriedade Intelectual (Inbrapi), Lúcia Fernanda Jófej, índia da etnia Kaingáng, destacou que os povos tradicionais não têm retorno do conhecimento repassado às universidades. “Existe uma troca que pode ser feita, os povos indígenas e as comunidades tradicionais têm respondido até hoje. Nós temos servido de insumo para a academia, com conhecimentos que têm servido de base de produtos e processos para obtenção de patentes. No entanto, nós não temos recebido isso de volta. Não tem tido a repartição de benefícios”, contestou a índia kaingang.


Segundo o antropólogo da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Alfredo Wagner Bento, o questionamento sobre a incorporação dos conhecimentos tradicionais mudou o foco. Antes promovido pelos movimentos sociais, o tema agora é proposto pela comunidade científica. “Estamos assistindo a uma mobilização significativa em torno da proteção da criatividade social, que se manifesta com o reconhecimento dos saberes tradicionais. Esse conhecimento passou a ter um valor econômico que 20 anos atrás não tinha”, observou.

O antropólogo ressaltou ainda que o questionamento proposto pelo meio acadêmico atualmente é a incorporação dos saberes tradicionais ao processo produtivo das grandes industrias farmacêuticas, dos grandes laboratórios, da indústria de biotecnologia e de cosméticos. “Como se dar essa aproximação de saberes de maneira adequada e justa? Ainda não temos a resposta, mas temos que começar a abrir um campo de discussão.”

Um exemplo de iniciativa bem sucedida, sugerido por Alfredo Bento, é o caso do município de São João do Triunfo, no Paraná. Por meio de lei municipal, a cidade reconheceu, em abril deste ano, benzedeiras, rezadeiras, curandeiras e costureiras de rendiduras (como são conhecidas as benzedeiras especializadas na assistência de pessoas com dores musculares) como agentes de saúde pública. De acordo com a organização não governamental (ONG) Movimento Aprendizes da Sabedoria (Masa), já foram cadastradas 161 benzedeiras na cidade, que tem 14 mil habitantes.

A reunião da SBPC continua até a próxima sexta-feira (27). Entre os principais pontos da programação de amanhã (26), está a conferência, do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Luiz Pinguelli Rosa sobre energia sustentável.

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