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Sávio Ximenes Hackradt

28.1.12


CINEMA

Por Carlos Emerenciano*

“Decifra-me ou devoro-te”. Foi dessa forma que a Esfinge de Tebas desafiou Édipo, no sentido de que este viesse a decifrar o seu enigma. Antes dele, vários outros haviam falhado diante do ser mitológico, que, sem pena, estrangulou-os. Édipo tornou-se, então, o primeiro homem a destrinchar o terrível quebra-cabeça da Esfinge, vindo a ser aclamado, em virtude do notável êxito, Rei de Tebas.

Pelo menos foi assim que Sófocles contou na peça “Édipo Rei” e a história perpetuou-se até chegar aos nossos dias. Tenho minhas dúvidas, no entanto, se o triste Édipo, condenado a um fim trágico desde o seu nascimento, tenha, verdadeiramente, decifrado o referido enigma. A julgar que este demônio seja representativo da figura feminina - vez que se tratava de uma mulher com corpo de leão alado e calda de serpente - acho muito difícil. Se discordar de mim, caro leitor, responda-me, de pronto, se você já conseguiu descobrir o que se passa na cabeça de uma mulher. Ou se cale, sob o risco de ser devorado.

O que se passou, desde então, a meu ver? Cansados de tentar em vão decifrar a alma feminina, nós homens passamos a cultuá-la através da Arte. E talvez seja o cinema, entre as vários gêneros artísticos, o que mais bem representa essa devoção. Belas imagens e cenas compõem esse cenário em que a mulher se apresenta em suas múltiplas faces.


Enxergo essa nuance na premiação do Oscar 2012, que ocorrerá no final de fevereiro. Entre as personagens retratadas destacam-se Margareth Tatcher, interpretada pela brilhante Meryl Streep em “A Dama de Ferro” (The iron lady, 2011), e Marilyn Monroe, por Michelle Willians, em “Sete dias com Marilyn” (My week with Marilyn, 2011). A primeira, apesar de integrante de um partido conservador, representou, paradoxalmente, um marco na luta por mais espaços em um mundo antes exclusivamente masculino (bandeira de mulheres liberais e libertinas). Depois da conhecida Dama, dura e, por vezes, inflexível, outras vieram ocupar este espaço. Uma delas é a nossa Presidenta Dilma.

Já Marilyn Monroe representa o lado frágil desse universo. É a mulher sensual que todos desejam e que, ao mesmo tempo, ressente-se desse assédio sufocante. O filme em destaque aborda a tensa relação entre Marilyn e Laurence Olivier (Keneth Branagh), durante as filmagens de “O príncipe encantado” (The Prince and the showgirl, 1957). Cansada dos conflitos ocorridos no “set”, Marilyn dá um tempo e parte para a diversão. Ressalte-se que, mesmo com todos os percalços, Olivier, gabaritado ator shakespereano, rendeu-se ao talento daquela que é vista por muitos como o estereótipo da “loira burra”. Confundem, erroneamente, atriz e personagem.

Além dos filmes que acabei de me referir, destaco também “Histórias Cruzadas” (The Help, 2011). Certamente, o mais comovente entre eles. Skeeter (Emma Stone), uma jovem branca idealista, resolveu, em pleno Mississipi dos anos 60 (um dos estados onde o odioso Ku Klux Klan tinha plena aceitação), pesquisar a história das negras que auxiliavam na criação de meninas brancas e, com amor e dedicação (preconceitos a parte), faziam-se imprescindíveis na formação do caráter dessas jovens. Aibileen (Viola Davis), governanta negra, resolve ajudar na pesquisa de Skeeter. Os conflitos, a tensão, mas também a doação, abnegação e amor afloram nessa busca.

Percebe-se que as mulheres ocupam, cada vez mais, o seu lugar na sociedade, sem descuidar, porém, do papel de mãe e alicerce emocional de um lar (o que seríamos de nós sem elas). Mulheres como Margareth Tatcher, Marilyn Monroe e, principalmente, tantas anônimas que, na luta do dia a dia, superando preconceitos e obstáculos, construíram uma sociedade menos desigual no que se refere a gênero. Antes de decifrá-las, prefiro render essa justa e singela homenagem.

*Carlos Emerenciano - Apreciador de um bom filme, dividirá com os leitores suas impressões sobre cinema todas as sextas-feiras.
Twitter: @cemerenciano
e-mail: aemerenciano@gmail.com

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