CALANGOTANGO não é um blog do mundo virtual. Não é uma opinião, uma personalidade ou uma pessoa. É a diversidade de idéias e mãos que se juntam para fazer cidadania com seriedade e alegria.

Sávio Ximenes Hackradt

31.1.12


Carlos Linneu Torres Fernandes da Costa, auditor fiscal

Retorno a Gramsci e não há como evitar esse grande nome da filosofia política se o tema é a política pensada como práxis ou como movimento social planejado, com objetivos de longo prazo. Estranhamente, por que relaciona-lo com os empresários do Rio Grande do Norte? Pouco a haver ou muito a haver, dependendo do entendimento desses personagens que não encontram o autor, como em Pirandello. Ou não desvelam que poderiam ser o próprio autor. Vejamos um pouco de teoria conspiratória e do marketing verdadeiramente político.

Os melhores livros técnicos acerca do que se convencionou denominar Marketing Político não são aqueles redigidos sob esse nome, mas os de marketing empresarial, de autoria de Theodore Levitt, principalmente “Imaginação em Marketing” e um livrinho extraordinário de Al Ries, intitulado “Posicionamento, a batalha pela mente”.

E se cabe ainda citar um case de campanha, para ilustrar os ensinamentos dos livros citados, o aficionado busque a revista Marketing, edição de fevereiro de 1986. Nela, na edição inteirinha, estão expostos com grande riqueza de detalhes, todo o planejamento e a criação adotados por Duda Mendonça para a campanha de Mário Kértecz para prefeito de Salvador, em 1985. Uma aula de marketing eleitoral, talvez a primeira campanha eleitoral brasileira em que, conscientemente, foi aplicado o marketing eleitoral como prática rigorosa. Uma relíquia, na qual não faltam pulos de gato.


Mas há o marketing eleitoral e há o marketing político. Este último, em suas feições modernas, foi criação do grande filósofo italiano Antonio Gramsci, mantido preso durante 30 anos e preservado vivo pela polícia fascista que nele enxergando um gênio italiano da estatura de Maquiavel, permitia que o intelectual marxista produzisse seus “Cadernos do Cárcere”.

Em Gramsci, reside a matriz mais distante dessa distinção. O grande filósofo italiano dividiu as atividades revolucionárias do proletariado em dois tempos, a guerra de posição e a guerra de movimento. A primeira transcorre nos momentos de paz e projeta conquistar posições privilegiadas na sociedade civil, via influenciação nas redações de jornais, magistério universitário, Igrejas, sindicatos, associações comunitárias e representação política nos parlamentos “burgueses”. A luta é pela consciência das pessoas e proporciona vantagens estratégicas para a guerra de movimento, esta a guerra civil real, de tiros e balas. Marx, em algum de seus escritos chamou a guerra de posição de evolução, e a de movimento, a própria revolução proletária, desencadeada nas ruas.

Atualizando os conceitos, o marketing político é a guerra de posição e o marketing eleitoral é a guerra de movimento, processada nas campanhas. O “posicionamento”’ de que fala Al Ries tem relação próxima com a guerra de posição, até mesmo nos nomes.

O marketing eleitoral é acionado durante a campanha eleitoral e agrega todas as ferramentas do composto mercadológico, enquanto o marketing político dispara as mesmas armas do marketing, só que utilizadas na entressafra de duas eleições, ou quase sempre buscando objetivos de longo prazo a ser atingidos anos a frente.

Os partidos comunistas do passado foram os grandes useiros do marketing político e no Brasil, o Partido dos Trabalhadores soube fazer a distinção entre os dois macroconceitos e por isso Dilma Roussef cresceu exponencialmente nas pesquisas durante a campanha eleitoral. É que o PT já havia ganho a guerra de posição, perdida por uma oposição que permaneceu abúlica durante os oito anos do governo Lula. Lula, bem assessorado por marxistas, conscientes da guerra de posição, repetia diariamente que o PT, vejam a ousadia, havia derrubado a inflação, entre outras mentiras fabricadas, sem que o PSDB reagisse de forma desconstrutivista do discurso governista. A guerra de posição é muito propícia para a mentira planejada.

A senha para as operações da guerra de posição declarada pelo PT foi a construção e a disseminação pela imprensa, do conceito que Lula passou a martelar em todos os auditórios, como a “herança maldita do governo FHC”. No início da campanha de 2010, Dilma marcava 3% das intenções de votos, Serra 49%. Mas como o candidato da oposição abestalhada já havia perdido a guerra de posição, só lhe restava recuar nas pesquisas, e a oposição, hoje, continua perdendo a guerra de posição, na medida em que continua nas sombras e sem discurso, enquanto o PT se reproduz em Dilma Roussef, que está sabendo mudar e atualizar o discurso petista, naquela versão de “mudar para que tudo permaneça o mesmo”. Provavelmente estará em posição imbatível em 2014, prescindindo de Lula.

E o Rio Grande do Norte? E os nossos empresários, esses atores que não atuam? No Ceará, três coroneis do Exército se revezavam na política cearense até um dia que os empresários locais, capitaneados pela FIECE montaram um projeto gramsciano e modernizaram os costumes políticos do estado vizinho.

Retornemos ao italiano. Gramsci criou o conceito de hegemonia, entendida como o movimento articulado – o bloco histórico formado pela estrutura e a superestrutura – que organiza e dinamiza na direção e planejamento das disputas políticas. Visava estabelecer estratégias eficazes para o triunfo das classes trabalhadoras...

Substitua-se a expressão classes trabalhadoras pela alternativa “classes empresariais”. No Ceará, o plano de hegemonia das classes empresariais foi coroado de êxito. E no Rio Grande do Norte? Primeiro um plano, as alianças indispensáveis e o start da guerra de posição.

O enredo está pronto. Ganharão todos, perderão os mandarins retrógrados, que transformam a política em fim em si mesmo. Rumo a um projeto de desenvolvimento econômico modernizante, não vegetativo. Assunto para outro artigo.

Enquanto isso, leiam Gramsci e o livro de René Dreifuss, “1964, a Conquista do Estado”. (@carloslinneu).

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