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Sávio Ximenes Hackradt

25.12.11


SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE E CIDADANIA – Por Marígia Tertuliano* (@marigiamadje)

A ONU aprovou Resolução, na quinta-feira, 22 de dezembro, em Nova York, declarando 2014 como Ano Internacional da Agricultura Familiar. Agora, é oficial e definitivo. O Ano Internacional da Agricultura Familiar da ONU é o primeiro caso precedido por uma campanha mundial em favor de sua declaração.

A campanha elaborada em julho de 2010 teve como objetivos: promover, em todo o mundo, a elaboração e efetivação de políticas públicas que garantam a viabilidade e o fortalecimento da agricultura familiar, com sustentabilidade, no campo; de potencializar o papel das organizações e movimentos sociais dependentes e defensores do meio ambiente, além de sensibilizar a sociedade civil sobre a importância de agricultura familiar.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura (FAO) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agraria (INCRA), a agricultura familiar se define com base em três características: a gerência da propriedade rural é feita pela família; os fatores de produção pertencem à família (exceção, às vezes, a terra), e são passíveis de sucessão, em caso de falecimento ou aposentadoria dos gerentes.

Conforme o IBGE, o segmento foi definido pela Lei n° 11.326, de 2006, a qual considera familiar o estabelecimento ou empreendimento rural que não exceda quatro módulos fiscais; a mão-de-obra e a gerência utilizada na atividade sejam predominantemente da própria família, e a maior parte da renda seja originada dessas atividades.

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Para o IBGE, a agricultura familiar tem um grande peso na produção de alimentos no País. Segundo o Censo Agropecuário de 2006, são mais de quatro milhões em todo o País, o que significa quase 40% da riqueza agropecuária brasileira, exatos 38% - envolvendo 4,3 milhões de estabelecimentos agrícolas, 84% do total, trabalhando em apenas 24,3% da área agrícola, e contando com 12,3 milhões de pessoas trabalhando.

Os dados do Instituto impressionam. Entretanto, são questionados pela Confederação Nacional da Agricultura – CNA, que, em suas falácias, continuarão a levantar as bravatas que fortalecem o grande latifúndio e o uso intensivo da terra, promovendo a exaustão da capacidade de suporte do solo, assim como a ampliação de áreas, via desmatamento, de Áreas Preservação Permanente em nome de um ganho capitalista excludente.

Assim, enquanto a Resolução se torna o marco de uma Campanha Mundial, espera-se que o conceito de rurbano seja fortalecido, para que as comunidades possam solicitar políticas públicas que promovam a permanência do homem em seu espaço, com dignidade; a discussão a cerca da agriculta familiar se arrasta desde os anos 90, e é questionada por uma série de senões que devem ser desmistificados e que se destacam: os problemas relacionados à grande concentração fundiária; as desigualdades regionais; ao modelo de organização sociopolítico e econômico; aos segmentos governamentais comprometidos com os interesses dos grandes proprietários, com os interesses Internacionais, além do fortalecimento do movimento dos trabalhadores que lutam pelo direito de reconquistar a terra.

É verdade que a agricultura familiar, no Brasil, não tem o destaque merecido, diferente do que acontece em nível internacional, que é tida como produtora de alimentos e como um dos principais atores na luta pela segurança e soberania alimentar. Essa realidade deve ser modificada, uma vez que é sabido que a superação da linha da pobreza por contingente expressivo da população periférica tem ampliado o consumo, dinamizando a economia. Entretanto, como afirma Boaventura Santos, é evidente [...] “a polarização social que está a emergir das enormes desigualdades sociais. Por enquanto, a mobilização contra a escandalosa desigualdade social (semelhante à de 1848) é pacífica e tem um forte pendor moralista denunciador”. Isso faz com que interesses se sobreponham e gerem discursos falaciosos.

Acredito que, alcançados os objetivos de diminuir o êxodo rural e proporcionar o acesso a terra, através de reforma agrária consistente, possam ser alguns dos benefícios da ampliação da Agricultura familiar, para prover a identidade que se faz necessária, uma vez que a resolução amplia o espaço para a abertura do comércio internacional de produtos, favorecendo a relação entre os mercados locais e regionais; amplia o acesso às novas tecnologias e pesquisas, em produção mais limpa e sustentável, além de promover a inserção dos agricultores familiares no comércio global.

A partir do exposto, concordo com Manuel Castells, quando entende identidade como [...] “a fonte de significados e experiência de um povo”. Entendo que o fortalecimento da Agricultura Familiar passa pela construção de sua identidade como caminho a retirar o homem do campo da miséria em que foi posto por longos anos. Sei que o debate é complexo. Entretanto, merece uma reflexão por parte da sociedade e daqueles que a representa. Acredito que a Agricultura Familiar pode reduzir esse foço entre o rural e o urbano, e a questão rurbana pode ser mais fortalecida. O agricultor familiar deve entender sua propriedade como o caminho que lhe proporcionará liberdade de habitar o rural com a dignidade que dizem que há no urbano.
O que acham? Chegaram a hora e a vez?

*Marígia Tertuliano é economista e professora universitária

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