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Sávio Ximenes Hackradt

16.12.11


CINEMA – Por Carlos Emerenciano*

“Para ajudar alguém, é preciso conhecê-lo”. É dessa forma que São José se dirige ao anjo sem asas Clarence, pedindo-lhe que acompanhe fatos marcantes da vida de George Bailey. Assim, pelos olhos de um anjo, ainda que de 2ª classe, passamos a conhecer um ser extraordinário, por quem tantos pedem. O que se vê na tela, portanto, é o que Clarence (Henry Travers) assiste sobre George, um homem que está prestes a se suicidar, em pleno dia de Natal. Motivo: a possibilidade de ser preso diante da constatação de um rombo na instituição financeira que dirige.

Essa é a atmosfera de “A felicidade não se compra” (1946) – título original It´s a wonderful life - obra-prima do diretor ítalo-americano Frank Capra. Fusão entre realidade e fantasia. Belo retrato da sociedade americana e seus conflitos, particularmente no que concerne à contraposição de valores (individualismo versus solidariedade). Autêntico conto de Natal que deve ser assistido em família.

Na verdade, Capra expõe magistralmente, nessa e noutras obras (“Aconteceu naquela noite”, “Do mundo nada se leva” - ambos premiados com o Oscar de melhor filme - “Horizonte perdido”, “O galante Mr. Deeds”, “Adorável vagabundo”, “A mulher faz o homem”, entre outras) uma visão de mundo otimista, quase utópica.

O diretor, filho de um camponês siciliano, acreditava na força da solidariedade como impulsionadora das transformações sociais. Tornou-se, assim, um entusiasta das ações de governo (New Deal) do Presidente Franklin Delano Rosevelt e um dos seus principais propagandistas. Era também um defensor do estilo de vida americano e dos EUA como terra das oportunidades. O seu exemplo - italiano de origem humilde que venceu em terras americanas – reforçava suas convicções.

Voltando ao filme, Clarence enxerga, num primeiro momento, um George Bailey ainda criança, no ano de 1918. José argumenta que o anjo precisará tomar conhecimento de alguns fatos que poderão ser utilizados no esforço de demover aquele homem desesperançado da terrível ideia de suicidar-se. Vê-se, então, um idealista desde a mais tenra idade, além de líder capaz de se sacrificar por seus liderados.

A história avança e mostra um George adulto (James Stewart), equilibrando-se entre sonho e realidade. Os planos de estudar engenharia e ampliar o seu mundo além dos limites da provinciana cidade de Bedford Falls são postergados em virtude da situação da empresa do seu pai – uma instituição que financia casas populares. Generoso, o pai de George vivia às turras com Henry Potter (Lionel Barrymore), membro do conselho da instituição e maior empresário da cidade. O velho financista (Potter) contrapunha-se radicalmente aos empréstimos para quem denominava “ralé preguiçosa”. Apenas George reunia condições de lutar contra aquele homem poderoso e desumano, que vislumbrava apenas o dinheiro.

Em meio a esses conflitos, o jovem Bailey encontra o amor de sua vida, Mary (Donna Red), casa-se e constrói uma numerosa família com 4 filhos. Como se percebe, os sonhos daquele jovem de ganhar o mundo foram suplantados pela realidade. Mesmo brilhante e prestando um relevante trabalho do ponto de vista social, George não conseguia economizar e proporcionar a sua família uma vida mais confortável.

Começa, então, a aflorar o lado sombrio do personagem interpretado por James Stewart, um homem que não consegue mais enxergar beleza em seu cotidiano. O que vislumbra são apenas frustrações e problemas. Tudo isso se avoluma até o momento em que ocorre um fato que pode levá-lo à cadeia. Justamente no dia do ano em que se celebra o nascimento do Cristo.

Não pensem, no entanto, que “A felicidade não se compra” se restringe a aspectos dramáticos da vida. Toda a história é entremeada por momentos de graça capazes de nos fazer sorrir, conferindo ao filme rara leveza. Por vezes, o riso vem misturado ao inevitável choro. Não é exagero afirmar que se trata de uma aula de cinema, cultuada por diretores como Steven Spielberg e Francis Ford Copolla que têm essa obra-prima entre suas preferidas.

Além disso, Frank Capra demonstra, nesse filme de grandes interpretações (James Stewart, Lionel Barrimore, Thomas Mitchell, Donna Red estão impecáveis), como dirigir, com extrema competência, um elenco numeroso. Diante de todas essas virtudes, resta fazer uma provocação: o que está esperando, caro leitor? “A felicidade não se compra” deve ser visto, revisto e guardado na memória.

*Carlos Emerenciano - Apreciador de um bom filme, dividirá com os leitores suas impressões sobre cinema todas as sextas-feiras.
Twitter: @cemerenciano
e-mail: aemerenciano@gmail.com

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