CALANGOTANGO não é um blog do mundo virtual. Não é uma opinião, uma personalidade ou uma pessoa. É a diversidade de idéias e mãos que se juntam para fazer cidadania com seriedade e alegria.

Sávio Ximenes Hackradt

29.5.11


Artigo
Fábio Farias - Jornalista
Dia 25 de maio de 2011. Mil pessoas em frente ao Midway Mall. Todas pediam em uníssono a saída de Micarla de Sousa da prefeitura de Natal. A grande maioria tinha entre 18 e 30 anos. O movimento foi convocado na segunda-feira, via facebook. Viralizou. E atingiu em dois dias público e força. Sem partidos políticos por trás. Maior movimento popular pedindo a saída de um governante que o Rio Grande do Norte já viu.
O jornalista Clóvis Rossi, em coluna assinada na Folha, especulava sobre o movimento 15 de maio, na Espanha: ele sinaliza a descrença com os partidos políticos de hoje. O 15 de maio foi o dia em que milhares de jovens espanhóis foram às praças e pediam “Democracia Já”. Protestavam contra os partidos políticos, apontavam falhas no sistema. Até ontem,  mantinham-se mobilizados. A campanha foi arquiteta toda na internet.
Portugal e Grécia fizeram algo semelhante. A primavera árabe que derrubou governantes na Turquia e no Egito, também. Antes, no Irã, as mídias sociais tinham sido usadas para denunciar a corrupção envolvendo a eleição de Ahmadinejad para a presidência. Em São Paulo, o churrasco “gente diferenciada” e a marcha pela liberdade de expressão foram organizados dessa mesma forma. Estamos diante de uma geração que não aceita o papel de mero coadjuvante na conjuntura política. Ela quer agir, interferir, participar do processo democrático. Ela quer questionar.
Maio de 68 foi um ano marcante. Jovens em vários países foram para as ruas protestar contra as ditaduras. Havia ali um claro norte ideológico: o socialismo animava, trazia esperanças. Livros de Marx povoavam o imaginário.  Passaram 43 anos. Se o sonho do socialismo provou-se pesadelo com as ditaduras do leste europeu e em Cuba, que agiram da mesma forma mesquinha que as ditaduras capitalistas, o sonho hoje de hoje é mais pragmático.
Não se briga mais pela instalação de um novo regime econômico, mas por uma educação melhor. A empolgação desses jovens é maior pelo respeito às liberdades individuais, do que por uma utopia passageira. O respeito às escolhas, a valorização da ética e da moral na política são valores importantes. Partidos e ideologias estão desacreditados. O que querem é respeito pela população.
Mundialmente falando, a direita e a esquerda estão em crise. Identidade. Os protestos ignoram vertentes políticas, atira contra a incapacidade dos dois grupos em resolver os anseios mais simples de um povo: educação e saúde de qualidade; oportunidades e emprego para a população. A Social Democracia como o caminho do meio, na Europa, sofreu um forte revés depois da crise mundial.
Jovens contestam o fato do povo ter que pagar por um prejuízo causado pelos banqueiros. Na Islândia, a população decidiu que o governo não deveria pagar pela crise gerada por banqueiros. Em alguns países, esse sentimento único e diferente alimenta também as radicalizações. O surgimento do Tea Party nos Estados Unidos, a vitória de grupos xenófobos no parlamento europeu, são exemplos do outro lado, da extrema direita.
Agremiações novas surgem. O partido pirata – talvez o único a captar bem o sentimento político desses jovens – se espalha. Há um rompimento na atuação e no pensamento regente. O mundo político – principalmente da esquerda – que está estagnado em 68, se quer captar esse jovens, será obrigado a se renovar, a rever os conceitos. Não é mais o contra burguês. É pela ética, pelo respeito das escolhas e liberdades individuais, e por melhoras tangíveis nas oportunidades das pessoas. Micarla e outros políticos que se cuidem, os tempos são outro.

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