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Sávio Ximenes Hackradt

25.4.11


Endividamento de US$ 42 trilhões dos países desenvolvidos ameaça a recuperação da economia mundial 
Fernando Dantas, de O Estado de S.Paulo
A dívida de um punhado de países ricos aumentou em US$ 16 trilhões (mais que o PIB americano) desde 2007, e atinge hoje US$ 42 trilhões, ou 61% do PIB global, representando uma das principais ameaças à recuperação da economia mundial.
Esse endividamento pesa hoje sobre Estados Unidos, países da zona do euro, Reino Unido e Japão, justamente a parte mais rica do mundo, que por séculos foi o motor e a vanguarda da expansão da prosperidade humana. Em 2007, antes da crise econômica global, a dívida dos países ricos era de US$ 26 trilhões, e correspondia a 47% do PIB global.
Nesta semana, os mercados globais entraram em estado de choque com a notícia de que a famosa agência de rating (classificação de risco de crédito) Standard & Poor’s havia colocado a nota dos Estados Unidos em "perspectiva negativa". A decisão da S&P não significa que os EUA já foram rebaixados, mas sim que existe uma chance em três de que isto venha a ocorrer em dois anos. Essa simples possibilidade, porém, já é suficiente para mexer com um dos mais importantes pilares do sistema financeiro global.
Desde que a agência iniciou a classificação do crédito do governo americano, há cerca de 70 anos, o rating sempre foi AAA, o máximo possível. Considerada como risco zero, ou pelo menos risco mínimo, a dívida americana sempre foi vista como o piso a partir do qual o risco de todos os outros créditos é medido. Assim, a chance de que a qualidade de crédito dos EUA venha a deixar de ser o parâmetro para avaliar os demais riscos embaralha as perspectivas da economia global num momento que já é particularmente confuso.
O problema americano é que, com a crise global de 2008 e 2009 - e os grandes déficits públicos que foram usados como alavanca para relançar a economia -, a dívida pública explodiu.

Segundo os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida bruta do governo americano saltou de 62% do PIB em 2007 para projetados 99,5% em 2011 (e deve chegar a 112% em 2016). Hoje, a dívida está entre US$ 14 trilhões e US$ 15 trilhões.
Três anos. Este ano, os EUA devem completar seu terceiro ano consecutivo com déficit público acima de 10% do PIB, o que colocou a dívida pública em trajetória explosiva. As autoridades econômicas americanas foram extremamente permissivas em termos de expansão fiscal e monetária depois da crise global, pelo medo de que qualquer tentativa de austeridade (que contém a demanda) jogasse o país num atoleiro deflacionário como o que o Japão experimenta desde o estouro da sua bolha no fim da década de 80.
Agora, porém, com uma tímida e intermitente recuperação em curso, os americanos começam a pensar em botar ordem na casa de novo, o que precipitou mais um áspero round de conflito político entre os democratas do presidente Barack Obama e a oposição republicana. "O compromisso (entre os partidos) é a única alternativa ao suicídio econômico, portanto ele virá: a única pergunta é: depois de quanta deterioração?" - resume para o Estado o economista Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia em Berkeley.
Tanto os democratas quanto os republicanos apresentaram planos de reduzir o déficit público em aproximadamente US$ 4 trilhões ao longo de uma década, o que o faria cair na média em aproximadamente 3,5 pontos porcentuais do PIB, segundo análise do investidor Gavyn Davies, colunista do Financial Times.
Isto, por sua vez, estabilizaria a dívida bruta em 110% do PIB em 2016, quando uma redução muito gradual se iniciaria. A dificuldade, porém, é que democratas querem que o ajuste fiscal seja baseado em aumentos de impostos para os ricos, enquanto os republicanos preferem economizar em programas de saúde e outras despesas públicas.
Muitos analistas notam que o impasse político nos Estados Unidos corre o risco de prolongar-se até as eleições presidenciais de 2012, o que só tornaria factível o início de um ajuste fiscal para valer em 2013. O recente discurso em que Obama lançou as bases do seu plano de redução do déficit criou a chance de algum acordo a curto prazo com os republicanos, mas, partir daí para fechar um plano comum de ajuste fiscal de longo prazo pode ser bem mais complicado.
"Os republicanos têm todo o interesse político em não dar uma vitória para o Obama, e veem uma chance grande de colocar o presidente contra a parede", diz Edward Amadeo, economista da Gávea Investimentos.
Sustentável. Se o sistema político americano não se acertar para colocar a trajetória da dívida pública do país em trajetória sustentável, a economia global pode ser jogada numa fase turbulenta, e de contornos muito difíceis de se prever. A reação típica dos investidores a uma nação com problemas muito graves de dívida é a fuga de capitais, que faz a moeda do país despencar de valor, e obriga o banco central a subir os juros, para tornar os ativos nacionais atraentes.
Os EUA, porém, não são um país típico, mas sim a potência hegemônica. E, até agora, não há sinais de que qualquer fuga de capitais esteja na iminência de acontecer. É verdade que o dólar vem caindo em relação às principais moedas do mundo, mas isto se deve basicamente à maciça injeção de US$ 600 bilhões que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) vem fazendo desde o final do ano passado. A enxurrada de dólares se espalha pelo mundo e ajuda a aumentar o valor relativo não só de outras moedas, mas também das commodities e do ouro.
No front dos juros, outro termômetro para se avaliar o risco de fuga de capitais, não há até agora nenhum sinal de perda de confiança global no crédito americano. No dia do anúncio do rating americano pela S&P, as bolsas despencaram, mas os juros americanos ficaram praticamente imóveis, e tiveram até uma queda muito ligeira.
"Os investidores estão preocupados com 2013, não com hoje, e foi também sobre 2013 que a S&P falou - estamos a dois anos da crise, em outras palavras", nota Einchengreen.
De qualquer forma, China e Japão detêm juntos pouco mais de US$ 2 trilhões em títulos da dívida pública americana, e os chineses, em particular, vêm manifestando crescente preocupação com a irresponsabilidade fiscal dos EUA. Alguns analistas observam que os mercados reagem de forma descontínua e brusca. Assim, a histórica confiança que garante a solidez secular das fontes de financiamento da dívida americana poderia se dissolver num momento de pânico, se subitamente China, Japão e todos os países que detêm títulos do país corressem juntos para a porta de saída.
Esse cenário de armagedon financeiro ainda está mais no campo da ficção científica do que nas projeções econômicas. Por outro lado, o simples fato de que a S&P lembrou ao mundo que mesmo a potência hegemônica pode se tornar caloteira foi suficiente para jogar um novo elemento de tensão na economia global, que tem tudo para permanecer presente nos próximos anos.

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