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Sávio Ximenes Hackradt

18.4.11


Do site do Ibope - Matéria divulgada no jornal O Estado de S.Paulo, no dia 17 de abril de 2011, sobre estudo da classe média no Brasil

A "nova classe média", trazida ao centro do debate político pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, na semana passada, e namorada pelo PT, que vê na presidente Dilma Rousseff a figura talhada para conquistá-la, chegou para mudar o cenário eleitoral do País, admitem analistas, marqueteiros e estudiosos.

O tema apareceu no artigo O Papel da Oposição, divulgado por FHC, e reforçou a condição desse grupo como objeto de desejo do mundo político. 

É um vasto universo de 29 milhões de pessoas pobres que, nos últimos seis anos, subiram da classe D para a C e carregam consigo novos comportamentos e expectativas. 

Analistas, líderes partidários, comunicólogos e marqueteiros já se esforçam para entender como reagirá, no futuro, esse segmento que, ao subir na vida, fez da classe média o maior grupo social do País, com 94 milhões de pessoas (51% da população).

"Não se trata de gente sem nada, que aceite qualquer coisa. É gente que trabalhou duro, subiu, sabe o que quer, tem mais informação e se torna mais exigente", resume Marcia Cavallari, diretora executiva do IBOPE. 

Esse brasileiro, diz ele, "quer sonhar, e não apenas diminuir seus pesadelos". 

O impacto desse cenário já se faz sentir no mundo político, que ainda procura entender a enorme votação da candidata Marina Silva (PV) nas eleições presidenciais de 2010. "Mas é perda de tempo tentar adivinhar se é um grupo de esquerda ou de direita", observa Antônio Prado, sócio-diretor da Análise, Pesquisa e Planejamento de Mercado (APPM), em São Paulo.

Oportunidades
Grande parte desses emergentes, afirma Prado, "são cidadãos que tomaram iniciativas, buscaram créditos, tornaram-se microempresários". Seus filhos estão entrando na universidade via Pro Uni. 

"Como trabalhadores, não querem um Estado que os tutele, mas que lhes dê oportunidades para crescer". E como cidadãos, continua o analista, eles esperam "que haja ordem na sociedade, para nenhum malandro lhes passar a perna" afinal, esforçaram-se demais para chegar aonde chegaram. 

Dos políticos, esse eleitor espera "coerência e dedicação ao bem comum". 

Para quem imagina que isso tudo tem um certo jeito de direita, Prado avisa que "esse brasileiro já foi pobre e percebeu que uma tarefa prioritária do Estado é atacar as desigualdades". Ou seja, a nova classe é a favor dos programas sociais. 

A vendedora Solange Ferreira Luz, moradora da periferia de São Paulo, é um exemplo típico desse novo eleitor mais informado e mais exigente. "Minha maior preocupação é a escola de meus dois filhos", diz ela. Tanto que juntou dinheiro para comprar um computador e prefere que eles estudem em escolas técnicas estaduais, que lhe parecem melhores que as municipais. 

Para esse eleitor, perde peso o discurso sobre "a elite de 500 anos" ou o neoliberalismo. 

O que lhe interessa mais, lembra Marcia Cavallari, "é que há empregos e ele não tem preparo para se candidatar a muitos deles. Então, a qualidade do ensino se torna um fator decisivo para sua vida, para ele aprender e subir".
"E ele quer que seus filhos cheguem à universidade e tenham uma vida melhor que a sua. Isso torna inevitável, em próximas eleições, o debate qualificado sobre o nível da educação no Brasil."
Pode-se estender essa nova percepção a outros setores. "Para esses emergentes sociais, é tudo novidade. Ele já faz viagens de avião e os aeroportos estão como estão".
"O filho na universidade saberá avaliar melhor o nível da educação", compara Renato Meirelles, diretor do instituto Datapopular, que faz estudos sobre o mercado popular no Brasil. 

Ele menciona, a propósito, pesquisas segundo as quais 68% dos filhos, na classe C, estudaram mais que os pais. Na classe A, esse percentual é de apenas 10%.
Ralé e batalhadores
Os limites desse cenário, no entanto, não podem ser ignorados. Primeiro, porque os "novos" se juntam a uma enorme classe média e podem, é claro, assimilar seus projetos e valores no dia a dia. 

Esse termo, nova classe média, "designa setores que ampliaram sua capacidade de consumo", adverte Leôncio Martins Rodrigues, "mas não define especialmente um novo segmento social". 

O sociólogo Jessé Souza até se recusa a admitir que exista uma nova classe média: existem o que ele chama de a batalhadores", uma multidão que tanto poderá ser "cooptada pelo discurso e pela prática individualista", como "assumir um papel protagonista e ajudar a ralé as massas desassistidas". 

O próprio Fernando Henrique afirma também que uma classe implica um estilo de vida, valores, e prefere falar de "novas categorias sociais". 

Marcelo Néri destaca, também, que "nem política nem economicamente há nada conquistado nesse público nem pelo PT nem pelas oposições". 

Além disso, "todos podem perder com a inflação , se ela voltar, e também com o desemprego".

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