CALANGOTANGO não é um blog do mundo virtual. Não é uma opinião, uma personalidade ou uma pessoa. É a diversidade de idéias e mãos que se juntam para fazer cidadania com seriedade e alegria.

Sávio Ximenes Hackradt

27.3.11

Sociedade, Meio Ambiente e Cidadania
Marígia Tertuliano - Profª da UNP

Mais um passeio na megalópole.
No diário de bordo, emoções e sensações, onde a cultura e a visão de “lugar e não lugar” impera.
As pessoas, os lugares e os motivos, cada um com sua racionalidade encantam, assim como assusta.
Enquanto estava indo a uma livraria adquirir mais livros para meus filhos, passei por duas crianças brincando. Aquela cena chamou minha atenção porque eram dois pequenos trabalhadores - aparentando terem oito e doze anos, respectivamente - caminhavam maltrapilhos, com suas caixinhas de engraxate, nas ruas da megalópole da cultura.
Cheguei mais perto dos dois para fotografá-los e ouvi a conversa: “vou levar para casa”- era uma cédula de R$ 2,00 (dois reais), nas mãos do pequeno trabalhador. O outro olhou e falou: ”dá um salgado”. Enquanto caminhavam sorriam. Foi então que engasguei: “como tirar alegria de uma situação daquela? Como vivem aquelas crianças? Mil coisas vieram a minha mente: “se possuíssem famílias equilibradas com os pais empregados; se tivessem o direito de brincar; a oportunidade de estuda; o hábito da leitura...
Imediatamente lembrei-me do Estatuto da Criança e do Adolescente e as cinco condicionantes ficaram em minha memória. O paralelo com a realidade dos meus filhos foi inevitável - os meus pequenos possuem o que toda criança tem direito, conforme o ECA, aquelas, infelizmente, não.
Foto Marígia Tertuliano
A caminhada continuou, e com ela novos “lugares e não lugares”. Dessa vez, à Câmara Brasileira de Livros, para o lançamento do Prêmio Jabuti 2011- estar naquele lugar foi uma oportunidade única.
Começa a apresentação do prêmio. Estava eu no meio de intelectuais, relembrando coisas aparentemente tão banais: “será que as categorias teem áreas que discutam a inclusão e a exclusão social"?
Juntamente comigo, jornalistas dos maiores veículos do País, ávidos por saberem das novas regras, do valor a ser oferecido aos ganhadores etc. E eu, como uma criança encantada, participando de tudo e realizando um sonho antigo. Claro que não sou jornalista profissional, mas por horas vivenciei os prazeres de uma profissão encantadora.
Naquele momento tive a certeza que aquele era o espaço onde eu queria ver aquelas crianças.
Terminado o lançamento do prêmio fui a um dos templos do consumo paulistano- Shopping Center, adquirir os presentes dos filhotes - livros e um diário, para a minha “Nísia Floresta”, escrever suas memórias. No templo, um amigo lembrou: “o ambiente é lindo, mas muito caro”.
 É verdade. Aquele espaço é excludente para aquelas crianças engraxates e muitos brasileiros. Sua arquitetura e ambientação incitam à seleção. Aquelas crianças, com certeza, apesar da alegria, não teriam condição de se fartarem das maravilhas que podem ser encontradas naquele espaço, a exemplo de uma bolsa que custa a bagatela de R$ 8.500 (oito mil e quinhentos reais). Com esse valor, quantas cestas básicas poderiam ser adquiridas? Aquelas crianças, com certeza não entenderiam a lógica.
 Assim, na megalópole onde a cultura é enaltecida, com belíssimos trabalhos, encontra-se muitos Brasis e neles, diferentes realidades.
Conheci alguns exemplos dessa diversidade, como é o caso da Bia - a pequena leitora da “Gata Xereta”; visitante assídua de biblioteca pública, diga-se de passagem, e habitante de um pequeno município paulista - integrante de um projeto de restauração de bibliotecas e incentivo à leitura.
Foto José Luiz Goldfarb
Como aquelas crianças, ainda sonho e acredito que é possível um mundo melhor e mais justo. Para isso, temos que incentivar a participação e o controle social para que estas crianças deixem de ser menor trabalhador.
Os espaços culturais que estão sendo criados, para incentivar a leitura e o gosto pelo livro, são ferramentas que estão se proliferando em um país que busca a erradicação da miséria
Assim, acredito que com políticas públicas includentes e com acesso à cultura aquelas crianças conseguirão alçar voos.
Afinal, o que elas precisam é ter o direito de serem crianças.

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