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Sávio Ximenes Hackradt

7.2.11

Por Thomas Henrique de Toledo Stella - Consultor e Professor de História Econômica e Relações Internacionais, Historiador pela FFLCH/USP, Mestre em Desenvolvimento Econômico pelo IE/Unicamp. www.thomasdetoledo.blogspot.com/

A vitória de Dilma sobre o candidato neoliberal José Serra não esgotou a luta política daqueles que acreditam nas transformações do Brasil. Agora a batalha central é para que o governo da nova presidente implante as mudanças que realmente o país precisa. No entanto, a sede por poder e a ganância por cargos do Partido dos Trabalhadores pode vir a atrapalhar a formação de um governo de coalizão que tenha força suficiente para aplacar as reformas essenciais ao país.
Historicamente, o petismo sempre teve a doença do “hegemonismo”. Ou seja, quando ganha uma prefeitura ou um governo, costuma relegar aos seus aliados pequenos nichos de baixo escalão na administração, deixando os cargos centrais aos seus correligionários partidários, e entupindo assim a máquina pública com assessores da miríade de tendências internas petistas. Essa postura está presente, inclusive, em movimentos sociais. A CUT, por exemplo, que nasceu para ser uma “central única” tornou-se uma central petista, pois quaisquer grupos ditos minoritários nunca tiveram espaço para se desenvolverem por acabarem abafados pelo seu campo majoritário.

Aliás, é curioso como esse hegemonismo sob a capa de uma pseudo-democracia das tendências do PT reflete em seus governos. Desde sua origem, o PT jamais foi um partido, mas uma confederação de tendências, onde se tinha desde uma direita pragmática (que já chamou “Articulação”, “Unidade na luta”, e hoje é “campo majoritário”), a trotskystas de extrema esquerda como a corrente “O Trabalho”. Dessas disputas fratricidas foram abortados um a um os “filhos feios” do pragmatismo: a “Causa Operária” que virou PCO, a “Convergência Socialista” que virou PSTU, e uma leva de saudosistas do “PT das origens” que fundou o PSOL. Por isso, assim como Lula fez, Dilma também precisava contentar a “Democracia Socialista”, a “Tendência Marxista”, a “Articulação de Esquerda”, etc, etc, mesmo que seja criando mais e mais Ministérios da Pesca. Porém, essas correntes minoritárias, a cada congresso petista lamentam profundamente o tratorzão do “campo majoritário” mas continuam acreditando que um dia dirigirão o PT.
Demorou para o PT, e até mesmo Lula, perceberem a importância da formação de um governo de coalizão para um país diversificado e regionalmente rico como o Brasil. Na primeira formação ministerial em 2003, até mesmo aliados históricos como o PSB, o PDT e o PCdoB receberam pastas com pouco peso político e orçamentário. Para o então Ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu, era muito mais interessante conseguir votos no Congresso com negociações espúrias do que fazer alianças duradouras de um governo de coalizão. Somente quando estourou o tal escândalo do mensalão, que o PT percebeu que precisava de aliados. E assim se forjava a “entente cordiale” de PT e PMDB.
PT e PMDB são muito parecidos. Não são partidos, são confederações, a diferença é que o PT reúne tendências ideológicas de esquerda e o PMDB caciques regionais sem ideologia. Outra diferença é que o PMDB está em qualquer governo, de direita ou de esquerda, enquanto o PT só está praticamente em governos seus, exatamente pela dificuldade em fazer alianças. Porém, essa aliança que surgiu no governo Lula, pode ser o veneno mortal para o governo Dilma.
Dilma montou um ministério, orientado por Palocci e pela cúpula do PT, em que 18 petistas assumiram as posições centrais do governo, enquanto o PMDB, recebeu 6 ministérios, a mesma quantidade que todos os outros partidos aliados somados (PSB, PDT, PCdoB, PR, PP). A composição tal como ficou, sequer respeita a proporcionalidade das bancadas eleitas para câmara e o senado, excluindo, obviamente, as nomeações de técnicos sem partidos que se resumiram a apenas 9 ministros. Este talvez tenha sido o primeiro de muitos erros do novo governo, pois aliados insatisfeitos costumam dar o troco em votações importantes, como a que ocorreu nas eleições da Câmara dos Deputados em 2005, em que uma divisão da base aliada resultou na vitória de Severino Cavalcanti (PP).
O primeiro teste de Dilma será a aprovação do novo valor do salário mínimo, que já tem descontentado partidos aliados por ter sido imposto sem discussão na base. Outro desafio que se avizinha é o descontentamento dos partidos da base que não concordaram com o pacto entre PT e PMDB para se revezarem na direção do congresso, sem a participação dos aliados. Em uma votação polêmica, poderiam ser capitaneados os votos de descontentes, levando a uma derrota do núcleo petista do governo Dilma, e angariando, inclusive os votos da falida oposição PSDB-DEM que se submeteram à lógica ditada pela dupla PT-PMDB. No entanto, o governo leva uma vantagem: a oposição está fragmentada, sem projetos políticos, sem bandeiras e desacreditada depois da campanha vergonhosa de José Serra e da herança desastrosa de FHC.
O governo Dilma, assim como foi o de Lula, é uma conquista do povo brasileiro. Porém, é no hegemonismo infantil do petismo que mora o veneno que pode impor derrotas políticas a este governo. Obviamente que um governo não deve ceder às pressões fisiológicas por cargos, especialmente do PMDB que só fala esta língua. Mas saber compartilhar o poder, e reconhecer as virtudes em aliados fiéis e valorosos poderia vacinar o governo de ter de enfrentar surpresas no Congresso. Por isso, enquanto o PT continuar agindo dessa forma, dificilmente o eleitorado conseguirá ver diferenças entre ele e o PMDB. Este último, porém, tem a vantagem de sempre ser situação, seja quem estiver no poder, enquanto o PT ainda tem minimamente uma bandeira ideológica a carregar. Gostemos ou não, eles são a principal referência de esquerda no país.

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