CALANGOTANGO não é um blog do mundo virtual. Não é uma opinião, uma personalidade ou uma pessoa. É a diversidade de idéias e mãos que se juntam para fazer cidadania com seriedade e alegria.

Sávio Ximenes Hackradt

20.2.11

Blog do Noblat
Josi Paz é Doutoranda em Sociologia pela Unb, pesquisa o tema Sociedade de Consumidores e Mudança Climática.

Em 1991, o executivo do Banco Mundial, Lawrence Summers, escreveu mais um memorando. Não existia Wikileaks. Mesmo assim, o rotineiro documento acabou circulando fora do Banco Mundial. Até chegar na redação da The Economist.
Foi assim que se tornou o famoso Memorando Summers, parte da história do movimento ambientalista. O texto dizia o seguinte: Cá entre nós, o Banco Mundial não deveria incentivar mais a migração de indústrias poluentes para os países menos desenvolvidos?
Três razões justificariam tal sugestão, escreveu Summers, lembram Henri Acselrad e outros autores no livro O que é justiça ambiental:
1) o meio ambiente seria uma preocupação “estética” típica apenas dos bem de vida;
2) os mais pobres, em sua maioria, não vivem mesmo o tempo necessário para sofrer os efeitos da poluição ambiental. Alguns países da África ainda estariam subpoluídos, disse Summers, lamentando que algumas atividades poluidoras não fossem diretamente transportáveis, tais como produção de energia e infra-estrutura em geral;
3) pela “lógica” econômica, pode-se considerar que as mortes em países pobres têm um custo mais baixo do que nos países ricos, pois seus moradores recebem salários mais baixos.

A revista The Economist publicou o memorando. Na edição seguinte, no entanto, disse que aquela era uma contribuição ao debate. Reclamou apenas da sua linguagem inadequada. O então Ministro do Meio Ambiente, José Lutzenberger, ‘verde’ de indignação, escreveu de volta a Summers. Chamou sua proposta de “totalmente insana”, um “colonialismo da imundice”.
Hoje, países desenvolvidos, em desenvolvimento, emergentes, BRICs – para citar algumas das categorias mais utilizadas - tentam se entender na crise da mudança climática. O caminho é longo e as pegadas ecológicas, bem diferentes. O Haiti, um dos mais pobres do mundo, teria uma das menores pegadas ecológicas (WWF 2008).
O professor José Eustáquio Diniz Alvez, em artigo do Ecodebate, menciona que a maior pegada ecológica per capita é dos Estados Unidos, 8 gha (hectares globais). (Global Footprint Network 2010).
Só entre os 5 países mais populosos - China, Índia, Estados Unidos, Indonésia e Brasil – estariam 48% da população mundial e 43% do PIB (em poder de paridade de compra - ppp), explorando 56% da terra e da água biologicamente produtiva do planeta (dados de 2010).
Considerando a pegada ecológica total, no entanto, a China, o país mais populoso de todos, é quem teria pé-grande, utilizando 2,98 bilhões de gha.
Para que aconteça uma educação ambiental não é apenas o consumidor que precisaria ser consciente, ético, sustentável, justo...
No final desse ano, quando completar duas décadas que o ‘incêndio’ do Memorando Summers foi apagado, o termômetro do Brasil para medir o clima do país será ajustado. É que o recém-criado Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas estará concluindo parte importante das suas tarefas.
O grupo de mais de 200 pesquisadores, que reúne, sintetiza, avalia as informações científicas, deve apresentar o resultado do seu trabalho coletivo no ano que vem, durante a Rio + 20. A Cúpula da Terra, Eco 92 ou Rio 92 , que lutou contra idéias do tipo Memorando Summers, também completará 20 anos.

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