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Sávio Ximenes Hackradt

8.1.11

Lígia Formenti, de O Estado de S.Paulo

Uma pesquisa feita em três hemocentros brasileiros no período entre 2007 e 2008 indica que o risco de contrair HIV em transfusões de sangue no Brasil é 20 vezes maior que nos Estados Unidos. O trabalho, feito por estimativa, calcula que uma em cada 100 mil bolsas de sangue do País podem estar contaminadas pelo vírus causador da aids. Nos EUA, a relação é de 1 para cada 2 milhões de bolsas.

Embora muito mais elevados do que americanos e de alguns países europeus, os índices brasileiros melhoraram. Uma versão anterior do levantamento indicava que 1 em cada 60 mil bolsas poderiam estar contaminadas pelo HIV. "Precisamos avançar na segurança. Mas não há dúvida de que muito já foi feito", afirma a coordenadora desse trabalho, Ester Sabino, da Fundação Pró-Sangue de São Paulo. De acordo com os números atuais, entre 30 e 60 pessoas por ano podem ser contaminadas por sangue doado.

Na versão anterior da pesquisa, a estimativa era de que entre 50 e 100 indivíduos pudessem se infectar. O coordenador nacional da Política de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde, Guilherme Genovez, questiona os índices apresentados no estudo. "Eles estão mais para um oráculo. Foram feitos por estatística, não podem ser considerados fato", observou. Para mostrar a segurança do sangue no Brasil, Genovez cita um levantamento feito em 130 mil bolsas de sangue coletadas em hemocentros de Santa Catarina, São Paulo, Rio e Pernambuco: o vírus não foi identificado em nenhuma amostra.

Financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, em inglês), o levantamento coordenado por Ester foi feito a partir da análise de bolsas de sangue coletadas nos hemocentros de São Paulo, Minas e Pernambuco. Durante a apresentação dos resultados, em congresso da Associação Americana de Bancos de Sangue, a autora classificou como "alto" o risco residual para HIV em transfusões de sangue no Brasil. A doação no País, no entanto, é precedida de uma série de cuidados: os candidatos passam por entrevistas para detectar situações de risco de contaminação recente com o vírus. Passada essa fase, o sangue é submetido a testes para identificar a presença do HIV.

O problema está no que médicos chamam de janela imunológica, período no qual a presença do vírus não é descoberta pelo exame. O mesmo problema ocorre com hepatite C, cuja janela imunológica é de 50 dias. Os reflexos dos exames "falso negativos" podem ser constatados nas estatísticas. Dados do Ministério da Saúde mostram que 13,3% dos casos da doença confirmados em 2009 foram causados por transfusão de sangue.

Uma das alternativas para melhorar a segurança é a introdução de rotina do uso de um teste batizado de NAT, que identifica traços do vírus no sangue e não de anticorpos, como os exames tradicionais.

Ester calcula que, com o início do teste, o risco de infecção por HIV passaria de 1 em 100 mil para um em cada 250 mil. "O exame, sozinho, não basta. O resultado não vai a zero, nem chega próximo do que é identificado nos Estados Unidos", diz. Para a professora, é importante reduzir uma prática ainda comum de as pessoas buscarem bancos de sangue para fazer testagem de HIV. "Além do NAT, dependemos de mudanças de comportamento de alguns doadores mais expostos ao HIV para que não façam doações", afirmou.

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