CALANGOTANGO não é um blog do mundo virtual. Não é uma opinião, uma personalidade ou uma pessoa. É a diversidade de idéias e mãos que se juntam para fazer cidadania com seriedade e alegria.

Sávio Ximenes Hackradt

30.1.11

Sociedade, Meio Ambiente e Cidadania

Marígia Tertuliano - Profª da UNP

Nesse final de semana visitei uma bela cidade nordestina.
A visita a um dos cartões postais da cidade, ambiente construído - mais um daqueles, que nós, humanos fazemos para contemplarmos a natureza e nos sentirmos integrados a esta, fez-me refletir sobre o turismo, os eventos que ocorrerão, em Natal, em 2014 e o impacto que estes terão na economia do Nordeste.
Ficou claro, que mesmo com boas intenções, o poder público, assim como a iniciativa privada, tem que planejar e dotar de infraestrutura, os ambientes a serem expostos aos visitantes.
Atender à legislação ambiental e dotar os ambientes de condições que demonstrem essa preocupação será fundamental, pois aqueles que estarão nos visitando cobrarão a cada instante - uma vez que se tornou discurso institucionalizado - o “desenvolvimento sustentável”.
Pois bem, durante a visita, em um mesmo ambiente, encontrei duas realidades. Primeiro, a reprodução de um belo espaço - o habitat de aves e suas belas espécies, onde o cidadão pode conviver por 03 (três) minutos com estas. Isso mesmo, esse é o tempo que temos para contemplá-las.
Imaginar esse tempo cronometrado fez-me sentir que eu estava com a liberdade vigiada e o tempo não estava a meu favor. Queria que aquele espaço fizesse parte do meu dia a dia e da minha família, mas a felicidade tem tempo, sim é verdade, lá no espaço das aves - 03 minutos de convívio é ouro.
Depois da visita a esse belíssimo ambiente, continuei o passeio com meus filhos. Dessa vez para conhecermos as belezas naturais de uma bica. Imaginei: “queda d’água; águas límpidas etc.”. Qual não foi a surpresa ao chegarmos lá. O ambiente, desconstruído por nossas pegadas, não refletia a beleza esperada.
Vivenciar a exploração de uma área, sem condições ambientais adequadas, como atração turística foi surreal.
A paisagem, desconstruída pelas construções desordenadas e sem condições sanitárias - encontradas em seu entorno, dava passagem à exploração turística; enquanto pessoas faziam passeio de pedalinhos naquelas águas, dando impressão de que a lagoa pedia para ser despoluída.
A água suja e poluída, advinda dos esgotos das residências que rodeavam aquele espelho d'água, servia de ganha pão para alguém que o explorava, com a conivência do poder público.
Infelizmente, lembrei da nossa Cidade da Criança. Senti receio e pensei: “como vou autorizar meus filhos a fazer esse passeio”? Não, não vou. Eles abdicarão ao pedalinho e em troca darei a eles a possibilidade de refletirem sobre a questão e como devem se portar diante de tal realidade.
E, mais uma vez, novos questionamentos surgiram: “quando vamos ter políticas públicas, que se proponham a nos dar condições dignas de vida; quando os gestores deixarão de legislar para os seus “umbigos” e olharão para os cidadãos, que pagam seus impostos, e têm o direito de viver com dignidade; quando nós, cidadãos reclamaremos nossos direitos, sem maltratar o outro ou sermos coniventes com a intolerância?
Ao lembrar do livro “Voar também é com os homens”, pensei: essas e outras questões, no meu entender, refletiram o pensamento de Mário Schemberg quando vislumbrou o novo, sem medo de arriscar ou explorar, e como ressalta Goldfarb, sem uma metodologia padrão, mas com aquela que fazia dele um ser único. O seu olhar sobre um mundo diferente, onde o homem poderia ousar e ver no efêmero a beleza. A beleza da arte; do bem viver, do ousar fazer. Ousar a voar. Voar cada vez mais alto sem pedir permissão, mas entendendo que o nosso espaço é um lugar para vermos e entendermos o outro - aquele diferente de tudo que pensamos na diversidade, mas semelhante na igualdade de sermos humanos.
Enfim, as férias terminaram, mas 2014 ainda está por vir. O que poderá ser feito para que o turismo ganhe com a sustentabilidade, e que a questão ambiental deixe de ser encarada como custos ou entraves? Será que os poderes, público e privado, aprenderão a voar?
E eu, cidadã, será que aprendi a voar olhando aquelas realidades ou continuo, como muitos, apenas questionando sem nada fazer para melhorar a minha realidade e a da sociedade da qual faço parte; atuo para a redução da desigualdade e de tanta intolerância perante os homens?
Ao relembrar Schemberg percebi que estou no caminho aprendendo a voar mais alto. O voo da liberdade.
E você, leitor, já sabe voar ou já tentou voar, como o Mário? Reflita: “Voar é também com os homens” (Goldfarb).

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